A Tentativa Desesperada de Vida do Ego
Nosso ego é o senhor da ilusão, um arquiteto incansável que constrói castelos na areia e se recusa a aceitar que a maré sempre chegará. Ele se apega a tudo: aos imóveis que chamamos de lar, aos carros que simbolizam status, aos projetos que definem nossa identidade, aos relacionamentos que, muitas vezes, já expiraram.
Ele não quer soltar os filhos que crescem, a família que se transforma, os amigos que seguem seus próprios caminhos. Simplesmente exige o controle de todos os cenários. O maior de seus medos é a destituição de sua própria personalidade.
Pois, se ele morrer, é o fim de sua persona. Então, inicia-se a luta desvairada pela sobrevivência, dia após dia, acumulando novas mágoas, conchavos e todo tipo de situações negativas que o mantenham vivo.
Ele grita dentro de nós: “Você precisa disso! Você é isso!”, como se cada pedaço de matéria e cada laço emocional fossem extensões da nossa existência. O desapego parece um insulto à sua necessidade de controle.
Afinal, se não somos a soma das nossas posses, conquistas e vínculos, então quem somos? Tirando tudo que é material, o que nos sobra?
Nos preocupamos em comprar bens que talvez nem possamos usufruir e que, na verdade, acabarão sendo aproveitados por quem sequer gastou tempo assentando um tijolo que seja. Tudo aqui conquistado permanece neste plano.
O ego tenta nos encaixar na materialidade das coisas, para que possamos nos sentir parte daquele cenário, como se fôssemos exatamente aquilo.
O ego quer a continuidade, quer ser eterno. Ele luta contra a impermanência como se pudesse vencê-la, mesmo sabendo que, no fim, tudo escapa por entre os dedos. Mas a vida tem suas próprias regras. Ela flui, muda, nos tira o que julgamos essencial para nos lembrar do que realmente importa.
A mente, às vezes dominada pelo ego, quer seguir a vida com a falsa sensação de que a imortalidade segue o jogo da existência, como se nada fosse acontecer. Ao passo que a consciência deseja apenas seguir na senda da evolução.
No jogo da impermanência, tudo se dissolve. Ontem, você foi o filho ou a filha; hoje, é o pai ou a mãe; amanhã, o avô ou a avó; depois, algumas fotos na estante ou nas redes sociais e, por fim, nem isso.
Todos os seus sonhos serão desintegrados na luz do destino. Quem você foi, não será mais. Sua família será destituída, suas memórias esquecidas. Tudo passa, e tudo passará. O ego se debate em estado agonizante, tentando sobreviver diante do seu fim iminente.
E então, a grande pergunta: estamos vivendo ou apenas segurando o que inevitavelmente se dissolve?
Artigo: Irmão Barbosa.
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Este Artigo faz parte do Livro de Toleran. O Livro do Tolerâncialismo.
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