Os Pombos de Skinner, e as Crenças Religiosas

Os Pombos de Skinner, e as Crenças Religiosas

A “superstição do pombo” é uma expressão famosa originada de um experimento conduzido pelo psicólogo behaviorista B.F. Skinner na década de 1940. O estudo faz parte do campo da psicologia comportamental e teve como foco os efeitos do condicionamento operante, ou seja, como o comportamento pode ser moldado por meio de recompensas (reforços).

O Experimento

Skinner colocou pombos em uma caixa (posteriormente conhecida como Caixa de Skinner) equipada com um dispositivo automático que liberava comida em intervalos regulares — independentemente do comportamento do animal. Ou seja, os pombos recebiam comida a cada determinado tempo, sem que precisassem realizar uma ação específica para isso.

Com o passar do tempo, Skinner observou que os pombos começaram a repetir certos comportamentos específicos — como girar em círculos, balançar a cabeça ou bater as asas — como se acreditassem que essas ações estavam fazendo a comida aparecer.

A Interpretação

Skinner concluiu que os pombos haviam desenvolvido comportamentos supersticiosos: associaram acidentalmente uma ação qualquer à aparição da comida, mesmo que não houvesse relação causal entre eles. Esse comportamento surgiu por reforço não contingente, ou seja, o reforço (a comida) não estava condicionado a uma ação, mas os animais aprenderam padrões ilusórios de causa e efeito.

Aplicações e Relevância

Esse estudo ficou conhecido como uma metáfora poderosa sobre o comportamento humano, sugerindo que, assim como os pombos, as pessoas também podem desenvolver crenças supersticiosas ou hábitos baseados em recompensas aleatórias, como em jogos de azar ou rituais pessoais antes de eventos importantes.

Excelente ponto para reflexão. Vamos traçar esse paralelo entre o experimento de Skinner com os pombos e culturas humanas que realizavam sacrifícios — como os astecas, por exemplo — acreditando que suas ações eram fundamentais para manter a ordem do mundo, como o nascer do sol.

Paralelo entre Sacrifícios Humanos e a “Superstição do Pombo”

1. Astecas e o Sol

Na cosmovisão asteca, o sol era visto como um deus guerreiro que precisava ser alimentado com sangue humano para continuar sua jornada diária. Eles acreditavam que, sem sacrifícios humanos, o sol deixaria de nascer — uma crença profundamente arraigada que justificava rituais brutais e sistemáticos.

Essa prática se aproxima da “superstição do pombo” no sentido de que os astecas identificaram uma relação ilusória de causa e efeito: “se fizermos sacrifícios, o sol nascerá”. Mesmo sem evidências concretas de que o nascer do sol dependia desses atos, a repetição do ritual reforçava a crença, sobretudo porque o sol continuava a nascer — o que era interpretado como confirmação da eficácia do sacrifício.

Outras Culturas com Crenças Semelhantes

2. Incas

Os incas também praticavam sacrifícios humanos, especialmente de crianças, nas chamadas “Capacocha”. Esses rituais estavam ligados à tentativa de agradar os deuses e evitar desastres naturais como secas, terremotos ou más colheitas. Era um mecanismo de apaziguamento divino.

3. Povos Fenícios (como os cartagineses)

Registros históricos e arqueológicos sugerem que os cartagineses sacrificavam crianças ao deus Moloque para garantir prosperidade ou proteção. Eles acreditavam que a oferenda mais preciosa (a vida de uma criança) garantiria favores divinos.

4. Povos da Mesopotâmia

Alguns rituais religiosos antigos na Babilônia e Assíria incluíam sacrifícios para apaziguar os deuses durante eclipses ou catástrofes. A lógica era aplacar a ira divina, mesmo que a relação entre os eventos celestes e os sacrifícios não tivesse base racional.

Padrão Comum: A Busca por Controle e Certeza

Assim como os pombos de Skinner, esses povos buscavam estabelecer algum controle sobre um ambiente imprevisível. A diferença é que, nos humanos, isso ocorre dentro de sistemas simbólicos e religiosos complexos.

Quando a ação (sacrifício) é seguida por um resultado positivo (o sol nasce, a chuva vem, o terremoto não acontece), o reforço positivo consolida a crença, mesmo sem qualquer relação causal direta. Isso evidencia uma tendência psicológica humana universal: buscar padrões, mesmo que ilusórios, para se proteger da incerteza.

Entendimento

Tanto no experimento com os pombos quanto nas antigas práticas religiosas, o que está em jogo é a necessidade de atribuir sentido e estabelecer conexões causais em um mundo caótico. Os pombos giravam acreditando que traziam comida; os astecas sacrificavam acreditando que faziam o sol nascer. Em ambos os casos, há uma ilusão de controle reforçada por coincidências que passam a ser vistas como evidência.

Artigo: Irmão Barbosa.


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O que é o Tolerâncialismo?

O que é o Tolerâncialismo Movimento filosófico que propõe a união de religiosos e irreligiosos, a partir da amizade entre as pessoas, tendo a religião e a irreligião como algo secundário. A investigação nos vales das religiões, filosofia e ciências deve ser a busca de todo tolerancialista. Primeiramente, deve ser celebrada a amizade entre as … Continue lendo O que é o Tolerâncialismo?