A Bola, os meninos e o velho.

Vi alguns garotos jogando bola em frente ao portão da minha casa, e aquilo me fez fazer uma reflexão profunda:

Quando garoto, eu jogava bola com os meninos da minha rua. Eu, Jorge Piracaia, Pipoca e o Bozó não nos importávamos com nada. A bola batia nos portões e nos carros da rua. Éramos observados por um velho, o senhor Gilberto. Quando a bola batia no carro ou no portão dele, ele, com veemência, nos chamava a atenção.

Muitos anos depois, eu estava vivendo o papel daquele velho. De dentro de minha casa, eu observava com atenção os meninos jogando bola em frente ao portão. A bola bateu no carro e, quando eu ia chamar a atenção deles, eu senti o que o senhor Gilberto sentia naquele momento.

Em algum ponto da existência, seja nesta vida ou nas próximas, iremos interpretar o papel do outro, para que possamos sentir o que ele sentiu. Talvez o executado de hoje tenha sido o executor de ontem.

Se isso for verdade, penso que essa seria uma lei de compensação, para que possamos sentir o que nossos irmãos sentiram. A aplicação desse conceito seria uma espécie de justiça divina, onde seria experienciado por nós tudo aquilo que proporcionamos ao outro, sejam coisas ruins ou coisas boas.

Uma compreensão profunda da unidade, uma preparação para a transcendência de nosso estado egoico. Entender na pele é a compensação necessária para compreender tudo aquilo que fizemos.

Nesse grande teatro cósmico, superar o ego é a queda das máscaras do grande teatro social chamado vida, onde todos, cedo ou tarde, revelarão sua verdadeira face.

Artigo: Irmão Barbosa.