Minha Lápide
Gastei muito tempo de minha vida tentando entender o outro, quando na verdade não existe o outro, porque ele é igual a mim. Um espelho que me devolve tudo aquilo que ainda não compreendi no âmago das profundezas de minha verdadeira essência.
Meus julgamentos revelam mais sobre a minha ignorância, do que sobre a pessoa julgada. O ego tem personalizado as coisas para mim. Talvez tudo o que estou cobrando seja aquilo que me falta. Desisti de tentar entender o outro, desisti de tentar entender a mim.
O véu que até agora nos separou é rompido. Face a face com o outro, vejo a mim: triste, fragilizado, decepcionado com tudo e com todos. Quem sabe o reflexo do mesmo sentimento, na cosmovisão de meus interlocutores.
Cada rosto que encontrei no caminho, era um fragmento meu clamando por reconciliação. Minha eterna busca por validação, a procura pelo reconhecimento, frívolas glórias transitórias deste mundo, que nada valem.
São como medalhas enferrujadas, comidas pela ferrugem do tempo e jogadas em um canto qualquer, fadadas ao esquecimento. Minha raiva, ódio e palavras inflamadas exigindo justiça eram apenas pedidos de socorro.
No auge da ofensiva, quando vi o outro sendo atacado, vi apenas partes que sobraram de mim — alguém que queria atenção, amor e carinho. Cansei de tentar buscar sentido nas ruínas do entendimento.
A decepção com o mundo foi apenas o reflexo da decepção comigo mesmo. Desisti de tentar entender tudo e todos. Pela confusão desse abandono, encontrei o contentamento que há tanto tempo minha alma buscava. Mas isso só foi conseguido quando desisti de tentar entender.
Ao romper o tecido sagrado do santuário de minha alma, descobri que todos são um só sopro, respirando através de milhões de rostos.
Aqui jaz quem buscou o outro, e encontrou a si. Eu entendi tarde demais que não havia ninguém para entender.
Muitos homens vão morrer tentando compreender o incompreensível e perdem esse precioso tempo não vivendo a vida. Desisti do mundo, encontrei o silêncio. Desisti de mim e do teatro social. É melhor perder o jogo e o ego, e ganhar a calmaria mental de uma vida simples, sem muitas expectativas — apenas viver um dia de cada vez.
Artigo: Irmão Barbosa.
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Este Artigo faz parte do Livro de Toleran. O Livro do Tolerâncialismo.
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