As compras, o ópio que entorpece nosso vazio existencial

Temos nos tornado acumuladores. Compramos todos os tipos de bugigangas na tentativa de aplacar o tédio de uma vida sem sentido. As compras são esse ópio; temporariamente elas satisfazem a tristeza que nos acomete em determinadas horas do dia.

O mais cômico desse artigo. No exato momento em que o escrevo, encontro-me na feira do rolo do Vila Mara comprando um monte de coisas sem sentido, e, depois de minha partida, ficarão jogadas em um canto qualquer.

Assim somos todos nós. Em cada compra tentamos a distração para nossa mente, que trafega na existência da vida como formigas que andam sem motivo, como diria o cantor. O consumo moderno tornou-se um ritual vazio e uma forma de anestesiar o vazio existencial.

Comprar tornou-se o novo rezar

Comprar tornou-se o novo rezar. Um ritual vazio em busca de um sentido que nunca vem. O carrinho cheio tenta preencher o vazio que mora dentro de um peito triste.

O consumo é o ópio moderno. Suave, rápido, colorido, entregue em até vinte e quatro horas, altamente entorpecedor.

Temos perdido o propósito da vida. E o substituímos pelo boleto, que se torna a nova forma de crença. Temos comprado coisas para esquecer que somos seres que não sabem o que fazer com o próprio tempo.

Cada clique de comprar agora. É um suspiro de quem não suporta o silêncio da própria alma e do seu vazio existencial. A ausência de sentido virou um mercado lucrativo nestes tempos confusos. Não temos comprado apenas o objeto, mas o instante de distração que ele promete, um remédio que nunca vai curar o vazio de nosso espírito, apenas o ameniza de tempos em tempos.

O consumo é a nova morfina. Anestesia quem teme sentir algo que vai passando, passando e passando. Em cada nova compra tentamos achar sentido em uma vida vazia, que segue sem transmitir significado e se desfaz lentamente. Estamos mortos.

Artigo: Irmão Barbosa.