Às vezes, as almas mais bondosas que vi estavam acompanhadas de um copo de bebida e um cigarro, e as pessoas mais sombrias portavam uma Bíblia.
Um médium, que passava horas atendendo as pessoas que iam a um centro espírita no Tatuapé, após horas de atendimento, estava muito cansado ao término da sessão.
Fiquei ali, reparando, tentando descobrir quem era aquele homem; após o término dos trabalhos, ele atravessou a rua sem cerimônia alguma, sacou sua carteira de cigarros, sentou-se em uma cadeira, pediu uma cerveja e ficou ali descansando.
Automaticamente, minha mente julgadora fez vários tribunais; eu pensava comigo: como uma pessoa que fez trabalhos tão maravilhosos, ajudou tantas famílias, estava ali entregue ao vício da bebida e do cigarro?
Fui até ele, cumprimentei-o e fui direto ao assunto: “O senhor fuma e bebe?”. Ele disse: “Sim, qual o problema?”. Respondi: “Como assim, qual o problema? O senhor estava em um centro espírita respeitado, é médium; como pode estar bebendo e fumando?”. Ele me perguntou: “O senhor é perfeito ou está buscando a perfeição?”. Tomei a palavra e disse: “Nenhuma coisa nem outra”.
Ele então, respondeu: “Participo dos trabalhos porque esse é um dom que recebi e esta é a minha forma de ajudar; aproveito também para tentar evoluir com tudo o que estou aprendendo aqui”.
Me chocou, a sinceridade daquele homem. Realmente, o trabalho dele era voluntário: usava o dom que tinha para ajudar pessoas. Sabia que o vício na bebida e no cigarro era incompatível com a posição que ocupava, mas decidiu ajudar o máximo que podia naquele lugar, e essa era uma atitude muito nobre.
Enquanto minha mente, secretamente o julgava, ele decidia trabalhar para ajudar as pessoas que precisavam dele.
Conversando com um pastor, que é meu amigo há muitos anos, ele me relatou que gostava de tomar uma cerveja para relaxar de vez em quando; novamente, minha mente já o julgava, e eu disse: “Mas, pastor, isso é certo?”.
Ouvi ele dizer, o seguinte: “Já participei de grandes igrejas, e lá os pastores têm que transmitir uma imagem de santidade, mas o que eu via era totalmente incompatível com a pregação dos dirigentes. Via pastores se relacionando com mulheres casadas; obreiras que tinham seus namorados e até maridos saindo secretamente com os responsáveis da igreja”.
Dito isso, ele concluiu: “Prefiro tomar a minha cervejinha do que agir como esse povo age”.
Esse é o problema, de muitas igrejas: tentam divinizar seus líderes, colocando-os como representantes do divino, e exigem que seus fiéis sejam exemplos de moralidade, impondo as mais elevadas exigências, das quais nenhum ser humano seria capaz de cumprir; quando falham, são açoitados pelo chicote do controle e do medo, o que garante a escravidão e o eterno controle dos líderes sobre os controlados.
Como posso julgar, o médium que fumava e bebia sua cerveja frente ao pastor que só pretende arrecadar oferta e dízimo e, quando acaba o culto, é um péssimo exemplo para todos?
Claro que, com esses exemplos, não me refiro à totalidade das igrejas protestantes ou mesmo da comunidade católica; apenas apresento um breve relato de que não podemos julgar, e sim, primeiramente, avaliar as pessoas por suas atitudes, não por suas palavras.
Aquele que faz, o bem ao próximo é mais digno de respeito e reconhecimento do que os paladinos da verdade, que nunca vivem aquilo que pregam.
Artigo: Irmão Barbosa.
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